Estou entre os alunos todos os dias. Ouço e vejo coisas boas e outras ruins que, se começasse a contar, daria um livro. São 25 anos vivendo no meio escolar. Mas hoje quero falar das fofocas, empurrões, risadinhas, apelidos indesejados - e os mais comuns são "baleia", "rolha de poço", "menininha", "quatro-olhos", "gelatina", "elefante" - que, se forem intensificados e repetitivos, deixam de ser brincadeira de criança. Isso não é normal e pode afetar o desenvolvimento emocional e até físico da criança ou do adolescente. Estamos falando do bullying. Trata-se de um termo em inglês utilizado para designar a prática de atos agressivos entre estudantes. Traduzido ao pé da letra, seria algo como intimidação. Quem sofre com o bullying é humilhado, perseguido, intimidado.
Por não existir uma palavra na língua portuguesa capaz de expressar todas as situações de bullying possíveis, ele pode se manifestar a partir de algumas dessas práticas:
Colocar apelidos
Ofender
Zoar
Sacanear
Humilhar
Fazer sofrer
Discriminar
Excluir
Isolar
Ignorar
Intimidar
Perseguir
Assediar
Aterrorizar
Amedrontar
Tiranizar
Dominar
Bater
Chutar
Empurrar
Ferir
Roubar
Quebrar pertences
Agredir
As consequências do bullying são diversas: auto-estima no chão, depressão, insônia, pânico e, em casos mais graves pode levar ao suicídio.
Enquanto escrevia sobre o assunto, estive pensando quantas vezes sofri humilhações, fui excluida e ouvi apelidos e comentários muito constrangedores quando era uma menina. Meu sobrenome, por exemplo, era muito zoado : Bogo, associado facilmente a bobo. Também a minha magreza (agora engordei, só de raiva) e as minhas sardas. Quem já não passou por situações semelhantes? É no mínimo, muito desagradável.
A educadora Cléo Fante é pesquisadora do bullying escolar e escreveu os livros Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e Educar para a paz e Bullying Escolar: perguntas e respostas.
Cléo Fante alerta que é preciso observar o comportamento da criança, se há alteração de humor, retraimento, tristeza, apatia, agressividade. E os professores, além dos familiares, são as pessoas mais indicadas para isso. É preciso observar o agredido mas também o agressor.
O professor é um dos referenciais mais próximo para os estudantes. Nossas ações precisam ser exemplos de tolerância, respeito, solidariedade, compaixão. Somente assim as crianças aprenderão a conviver pacificamente, ou seja, imitando os exemplos dos adultos. Faltam boas referências para os jovens de hoje. Tornou-se normal a permissividade, a intolerancia, demonstrações de violência. Não bastam os filmes violentos, os jogos de videogame e virtual que incitam comportamentos abusivos e discriminatórios. Infelizmente prevalece a cultura que privilegia os mais fortes, os belos e quem tem sucesso.
É isso.